Por Keli Davi Moreira
A pouco recebi mais uma receitinha de memória afetiva. Uma grande amiga enviou e disse que sua mãe, preparava no natal, um delicioso prato, marinando o pernil em alho, vinagre e um bom tempero. Na sobremesa, servia um manjar branco com calda de ameixas.
Sabe qual o motivo de uma receita, que ela diz ser tão simples, ser tão especial?
Reparem que ela escreveu: “Um bom tempero”.
Quando uma prato torna-se parte da nossa memória de uma forma tão especial, significa que o Bom tempero citado, foi o amor, a dedicação empenhados na elaboração do prato.
Quando comemos, não alimentamos somente nosso corpo, alimentamos nosso espirito é por isso que devemos respeitar tudo aquilo que morreu, para nos sustentar.
Um pouco de história
O pernil suíno é muito utilizado em pratos como recheios, por ser uma carne suculenta. No Brasil, é comum observarmos botequins vendendo sanduiches de carne de pernil, assado, temperado e fatiado, acompanhado de um bom vinagrete ou cebolas caramelizadas.
No natal, a iguaria sempre está presente em nossas mesas, podem ser preparada de diversas formas e com vários acompanhamentos.
O natal é um ritual que teve sua origem há mais de três séculos, provavelmente nas igrejas europeias, onde os fiéis eram reunidos em uma espécie de encenação da Santa Ceia. O intuito era confraternizar e programar o futuro.
Jean Baptiste Debret veio para o Brasil pouco depois da vinda de D. João VI em 1808, tornando-se seu pintor particular e também membro fundador e professor da Academia de Belas Artes. Segundo textos encontrados, ele descreve o natal como uma festa de troca de presentes comestíveis, de caças a compotas.
A cena observada por ele é reportada em uma de suas obras, cujo título é “Presente de Natal”. Na imagem pode ser observada homens carregando um leitãozinho e um peru, e uma cesta na cabeça com alguns outros presentes cobertos por uma toalha. Outro homem também carrega mais um leitão de maior porte. Há outro homem que caminha mais à frente carregando uma cesta com muitas garrafas de vinho do porto, segundo a descrição de Debret. Na mesma cesta onde vão as garrafas, existe também uma carta de congratulações natalinas.
RECEITA
INGREDIENTES
1 peça de pernil suíno com osso e pele (cerca de 4 kg)
½ xícara (chá) de vinho branco
4 cebolas
6 dentes de alho
3 folhas de louro
3 cravos-da-índia
1 canela em rama
5 grãos de pimenta-do-reino
Mas, minha amiga Keli, também falou a respeito do Manjar branco com ameixas.
Huummm, só de imaginar, dá água na boca.
A origem do manjar é desconhecida, mas há quem diga que a primeira receita é originária da França, blancmange, derivado do francês antigo blanc mangier. Manjar é uma sobremesa, geralmente feita com leite ou creme de leite, açúcar e pode ser engrossada com amido ou gelatina e é tipicamente aromatizada com amêndoa.
O manjar era um prato comum entre as classes altas na maior parte da Europa, durante a Idade Média e início do período moderno. Existem inúmeras variações de preparação e ingredientes espalhados por toda a extensão do continente. O prato é mencionado no prólogo dos Contos de Cantuária, e em livros de receita escritos por cozinheiros da corte do rei Ricardo II de Inglaterra no começo do século XV. Os ingredientes básicos eram leite ou leite de amêndoa, açúcar e frango desfiado (geralmente capão) ou peixe.
Em 1680, a receita passa por mudanças. Além de peito de galinha, levava açúcar, leite e água de flor – o sal já havia sido suprimido. Em 1780 o manjar branco foi descrito por um cozinheiro francês que trabalhava na corte de Lisboa como manjar “à portuguesa”. Levava ainda peito de galinha, farinha de arroz, açúcar em “pó” e leite. A receita atravessou o Atlântico e apareceu no primeiro livro de cozinha publicado no Brasil, O cozinheiro imperial, de 1841. Dessa forma, a sobremesa associa-se à história de Portugal e do Brasil e reflete tempos, sabores e saberes culinários de diferentes períodos.
O livro Açúcar, de Gilberto Freyre, fala sobre a influência africana na cozinha brasileira, e o manjar branco é um dos melhores exemplos dessa influência. Ao longo do século XIX, ele perdeu o peito de galinha, mas ganhou o leite de coco. Não perdeu a cor, mas ganhou inimigos ferrenhos que o comparam com o pudim de leite. Pobre comparação, o manjar branco continua gostoso como sempre, com sua majestade imperial e histórica.
RECEITA
INGREDIENTES
1 Litro de Leite
200 ml de Leite de Coco
395 ml de Leite Condensado
1/3 de Xícara de Açúcar
6 Colheres de sopa de Amido de Milho
250 g de Coco Ralado
CALDA DE AMEIXA
1 Xícara de Açúcar
1 Xícara de Água
150 g de Ameixas Secas
PREPARO
PARA O MANJAR
Numa panela, coloque o leite, o leite de coco, o leite condensado, o açúcar e o amido de milho. Misture bem até que se dissolva completamente o amido de milho.
Leve ao fogo brando, mexendo sempre até que vire uma espécie de mingau. Quando tiver engrossado, desligue o fogo e adicione o coco ralado, mexendo bem até tudo se incorporar.
Utilize uma assadeira de furo no meio, untada com manteiga, para facilitar na hora de desenformar. Transfira o manjar e cubra com plástico filme, leve para a geladeira por no mínimo 4 horas, ou até que ele gele completamente.
PARA A CALDA
Depois que seu manjar estiver geladinho e firme, desenforme-o no prato em que vai servir.
Para a calda, comece colocando a água para esquentar e em outra panela leve ao fogo o açúcar para derreter.
Quando estiver completamente derretido e adquirido uma cor caramelo, coloque a água. Continue mexendo calmamente até dissolver novamente todos os cristais de açúcar. Por fim, coloque as ameixas na calda e deixe ferver por uns 3 minutinhos.
Fique atenta, pois a calda engrossa rápido e pode grudar na panela, deixe no fogo somente até que as ameixas tenham inchado um pouco e estejam mais molinhas.
Feito isto, desligue o fogo mexa por uns 2 minutinhos para ir baixando a temperatura, e então pode colocá-la sobre o manjar. Aí é só aproveitar, sirva geladinho!
E ai, gostou da história?
Envia sua receita, que eu coloco um temperinho a mais com muito amor e muita cultura.
rconchetto@gmail.com
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